A FNE e a AFIET celebraram o Dia Internacional da Mulher com o webinário “Quebrar os preconceitos”, que contou com a oradora convidada Joana Torres, da Universidade Fernando Pessoa, Mestre em Psicologia da Justiça e ativista feminista, numa intervenção moderada por Maria José Rangel, Presidente do Sindicato Democrático dos Professores da Grande Lisboa e Vale do Tejo (SDPGL).

O evento foi uma das formas de a FNE e a AFIET se associarem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado pela ONU desde 1975, e que este ano escolheu como tema das celebrações a “Igualdade de género hoje para um amanhã sustentável”.

Depois de fazer uma breve apresentação da oradora, Maria José Rangel referiu que “apenas 43% das professoras portuguesas, num universo de 74%, tem acesso a cargos de direção de escola em Portugal. No caso das investigadoras, o número de mulheres diminuiu durante a pandemia, porque tiveram de se dedicar mais à casa e aos filhos”. Estava dado o mote de parte da moderação para o tema do webinar, em que Joana Torres descodificou o papel relevante da Educação na dignificação da igualdade de género nas sociedades.

A investigadora recordou que “aqueles números mostram o quanto estamos longe de atingir a igualdade. Existem desigualdades estruturais claras nas escolhas para cargos de decisão nas escolas”. Para Joana Torres, “o importante não é só fazer, mas sim perceber como fazer. E sem dúvida que a mudança social deste paradigma passa obrigatoriamente pela educação”.

A oradora clarificou conceitos como identidade de género, orientação sexual, sexo biológico e papel de género, provocando as mentes para um trabalho que socialmente está a ser desenvolvido, “mas que está longe de estar resolvido”. Levando a questão até à infância, Joana Torres alertou para comportamentos e expetativas que inconscientemente os pais tomam com os seus filhos, e que acabam por condicioná-los no que respeita ao género.

Em seguida, entrou no tema “Mulher” de forma mais assertiva, dividindo os significados de feminismo, femismo e machismo, realçando ao mesmo tempo que o conceito de feminismo lembra que a igualdade de género remete para direitos humanos e justiça social. Percebemos depois que “ainda faz sentido falar em igualdade de género. A história mostra o quanto custou às mulheres conquistar o direito de votar. Na prática, o voto é um direito a ser pessoa”. Joana Torres lembrou que “em Portugal só em 1976 se ‘libertou’ as mulheres. Até 1974 existiam crimes de honra e crimes de adultério. Não foi há 100 anos, foi ‘só’ em 1974/76”.

Para justificar os seus argumentos, a oradora apresentou números que provocaram reações diversas nos participantes e levantaram curiosidade para consulta posterior. O estudo “Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal” (link para estudo) de 2016, permite perceber que 50,5% das mulheres portuguesas pensam mais nas tarefas domésticas enquanto estão na sua profissão, do que os homens, assim como na realização de telefonemas de natureza familiar.

Outro dado que aquele estudo permite conhecer, da diferença de género, refere-se ao tempo útil despendido por homens e mulheres nas tarefas domésticas, com as mulheres a continuarem a dedicar mais tempo a essas tarefas do que os homens, daquele modo “desperdiçando tempo para aquilo a chamamos de autocuidado, que tão bem faz a todas. É verdade que as tarefas em hoje em dia são mais divididas, sem dúvida, mas a mulher continua a ter tendência em escolher a tarefa de forma primordial relativamente ao homem.

A distribuição é assim desigual. Muitas vezes a mãe acaba a fazer tarefas domésticas, o pai fica a brincar, estudar e a conversar com o filho e depois, em jeito de brincadeira, o pai é que é fixe”. A fechar os números relativos ao estudo mencionado, Joana Torres demostrou que as mulheres dedicam em média quatro horas e vinte e três minutos a lides domésticas, cerca de mais duas horas que os homens.

No setor da educação, “o ensino superior é frequentado por uma larga maioria feminina, assim como as mulheres estão em maioria em profissões envolvidas com áreas de educação, ciências sociais, saúde e direito. E por falar em educação, será que educamos mesmo para a igualdade?”, questionou a ativista. “A verdade é que educamos para a igualdade, mas todos acabamos por usar estereótipos, como nos brinquedos que damos às crianças para brincar”. Para Joana Torres, “as mulheres são multitarefas, conseguem ter carreiras profissionais e ainda chegar a casa e cumprir tarefas domésticas. Mas será esse o preço da liberdade das mulheres?”, questionou.

No caso das escolas, a oradora levantou uma questão particular: “Se há mais professoras do que professores, por que é que em termos de linguagem se utiliza preferencialmente o masculino? Este tipo de situações potencia os preconceitos de género”.

Na parte final do webinário, Joana Torres deixou um pedido: “Que se comece a apostar mais na formação e consciencialização nas escolas. A escola tem um enorme potencial agregador e não é apenas com pequenas ações esporádicas, ao longo do ano, que se vai resolver o que quer que seja”. Em sua opinião, as escolas devem trabalhar sistematicamente, ao longo do ano letivo, junto dos alunos, junto dos professores, de forma que possam contribuir para a modelação do comportamento das crianças e jovens.

“As instituições levam a efeito algumas ações, mas no fundo andamos apenas a colocar “pensos rápidos”. É preciso criar programas preventivos. No fundo, o que mais desejo é que sejamos todas/os sujeitos de transformação”.

Fonte: FNE

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