No dia seguinte à Greve de Professores, a FNE apresentou em Conferência de Imprensa, os resultados da Consulta Nacional que desenvolveu online no início deste ano letivo, mais precisamente entre 14 e 21 de outubro – um mês precisamente depois do recomeço das atividades letivas – para recolher a opinião de educadores e professores portugueses em relação às suas perspetivas sobre a carreira e o reconhecimento profissional e sobre as condições de início do novo ano letivo.

Responderam 2154 educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário de todo o país, com uma distribuição geográfica, de género e de idade que têm forte adesão à realidade sociológica dos docentes portugueses: 80,3% de mulheres, 58,9% com mais de 50 anos de idade. 44,6% dos respondentes trabalham no 3º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, 7,3% na Educação Pré-Escolar, 26,1% no 1º ciclo, 17,1% no 2º ciclo.

Ainda no campo da caracterização do público que respondeu a este questionário, 77,8% diz ser sindicalizado, e 63,1% diz que é sindicalizado num sindicato da FNE. É evidente que a interpretação destes números não pode ignorar o facto de a consulta ter sido dinamizada pelos sindicatos da FNE e nos seus espaços mediáticos. De qualquer modo, não deixa de ser relevante o facto de haver respondentes que não pertencem ao espaço FNE.

PERSPETIVAS DE CARREIRA E RECONHECIMENTO SOCIAL

A conclusão que aparece com maior evidência é a de um profundo descontentamento em relação ao estatuto remuneratório, a que se associa uma perspetiva de deceção em relação às expetativas de desenvolvimento da carreira. Com efeito, 96,7% dos participantes declararam expressamente que a sua remuneração não está ao nível das qualificações que lhes são exigidas, e 56,5% afirmam que as suas perspetivas de carreira são dececionantes, a que acrescem 39,7% a dizerem que são pouco atrativas.

De qualquer modo, é de assinalar que, numa escala de 1 a 5 quando se perguntava se gostam da profissão que exercem, uma maioria de 51,3% escolhe a nota máxima, 27,5% atribui a nota 4 e 13,6% escolhem a nota 3, o que dá uma expressiva manifestação de gosto pela profissão que acaba por ser independente da apreciação do estatuto remuneratório em que estão inseridos.

Esta questão é completada por uma outra que procurava saber, também numa escala de 1 a 5, se os participantes se sentem realizados no exercício profissional, 64,2% colocam-se numa perspetiva positiva.

Mas tudo apreciado, talvez não seja de estranhar que 86,4% dos respondentes diga com toda a clareza que não incentivaria um jovem a ser professor.

Finalmente, e neste âmbito, a consulta procurou saber como é que os educadores e professores portugueses percebem o reconhecimento social pela profissão docente, sendo que aqui a soma dos que consideram que é pouco elevado e insuficiente atinge os 86,2% (28,4% num caso e 57,8% no outro), sendo os docentes do 1.º ciclo (60,3%) que consideram insuficiente de uma forma mais premente.

SISTEMA EDUCATIVO

Esta consulta debruçou-se sobre a imagem que os educadores e professores têm acerca do sistema educativo.

70,1% dos respondentes afirmaram que, na sua perspetiva, a sociedade tem uma imagem negativa da qualidade do sistema educativo português.

Mas, perguntado o mesmo aos próprios respondentes, estes têm uma imagem diferente. 46,8% dizem que é muito bom ou bom, mas 19,1% caracteriza-o como insuficiente.

Os respondentes são depois muito críticos em relação às opções do atual governo em matéria educativa, classificando-as como insuficientes 73,9% dos participantes na consulta, limitando-se a 5% os que a consideram boas ou muito boas.

Como a inclusão tem sido apresentada pelo Governo como uma das pedras de toque das suas opões em matéria educativa, os respondentes a esta consulta são também muito claros só 20% afirmam que o grau de inclusão que o sistema educativo garante é bom ou muito bom; 44,4% dos participantes declara-o insuficiente.

HORÁRIO E CONDIÇÕES DE TRABALHO

Um mês depois de iniciado o novo ano letivo, esta consulta quis conhecer a apreciação que os educadores e professores portugueses fazem sobre a forma como está a decorrer e o grau de cumprimento das normas que está a ser garantido.

74,4% dos respondentes não têm críticas quanto à legalidade dos horários que lhes estão atribuídos, mas é muito expressiva a quantidade dos que criticam a burocracia, o excesso de tempo de permanência na escola e a quantidade de horas letivas atribuídas, a ultrapassagem do número de horas de trabalho com as que estão determinadas no horário, excesso de reuniões obrigatórias.

E, na sequência deste levantamento, é extremamente preocupante que 48,9% dos respondentes diga que nem todas as as tarefas que lhes são atribuídas se justificam, e aqui muito claramente é a burocracia e o trabalho administrativo que são identificados, sendo os docentes do 1.º ciclo que o afirmam de uma forma mais veemente, respetivamente 62,1%.

A maioria dos participantes é muito crítica também em relação à forma como é atribuído o horário e como é feita a distribuição do tempo de serviço, que impede de uma forma clara para muitos as condições para a realização de trabalho colaborativo entre docentes, e que é essencial para a qualidade do trabalho pedagógico. 51,2% diz que não há condições para a realização do trabalho colaborativo.

ESCOLA DIGITAL

Os resultados desta consulta deixam alertas importantes sobre a real concretização de medidas que garantam condições para que o digital possa constituir uma ferramenta de apoio ao trabalho pedagógico.

29,7% dos respondentes diz que ainda não lhe foi atribuído um computador para o presente ano letivo, e 20,3% dizem que as condições de acesso à rede na sua escola são más, e 47,4% diz que são apenas razoáveis.

A FNE deixou uma palavra de agradecimento a todos os que participaram neste questionário e que dessa forma ajudaram na ação que é da nossa responsabilidade de promover um melhor sistema educativo, com profissionais reconhecidos e valorizados.

A FNE considera que estes resultados demonstram bem a insatisfação que atravessa Educadores e Professores de todo o país e espera com estes resultados reforçar junto do Ministério da Educação e do Governo, em geral, a necessidade de encontrar soluções e resolver os problemas identificados, as insuficiências e as fragilidades que advêm de anos anteriores, com o intuito de definir políticas concretas de investimento e de resposta à precariedade, à valorização e rejuvenescimento da condição e profissão docentes, assim como à gestão adequada dos recursos humanos da educação.

Fonte: FNE

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